Antes de mostrar a Mesa de Pessach que preparei para minha família, vou explicar porque o povo judeu comemora Pessach, a páscoa judaica, qual seu significado, quais as tradições à mesa e o que se tem costume de comer nesse dia especial.
A História da páscoa judaica
O Pessach vem da palavra passover, que significa pular, saltar. D’ us “pulou”, “passou”, pelas casas dos judeus no Egito, para que não morressem seus primogênitos, uma das dez pragas do Egito (Shmot, capí- tulo XII, versículo 23).
Pessach é uma festa ligada à formação do povo de Israel – de “bnei Israel”, tendo à frente o líder Moisés.
Um dos valores característicos de Pessach, é o valor da liberdade para um grupo de pessoas que vivia sob o jugo do Faraó no Egito sob regime de escravidão.
Durante Pessach refletimos sobre a libertação da alma das coerções psicológicas e emocionais representadas pelo “Egito”. Conforme explicações da Chabad News, “a palavra hebraica para Egito, Mitzraim, pode ser também traduzida por “inibições” ou “restrições”: metzarim. Todos nós combatemos inibições interiores e exteriores, que reprimem nosso crescimento e impedem que utilizemos ao máximo o nosso potencial. Podemos ficar paralisados pelo medo, vergonha, culpa, ressentimento, vícios. Podemos carecer da habilidade de amar, sonhar, chorar e relaxar nossas defesas, ou ficar escravizados por impulsos e sentimentos doentios de inveja, animosidade e amargura. Neste sentido, todos nós nos encontramos num ou noutro tipo de “Egito”, e o SEDER (jantar) nos oferece a oportunidade de abandonar nosso Egito pessoal e caminhar em direção à Redenção. Abrimos nossos corações e acolhemos cordialmente em nossas vidas a energia Divina da libertação”.
A festa de Pessach é celebrada por oito dias, quando fora de Israel, e por sete dias em Israel. Possui, como ponto central, a realização do Seder, jantar especial que, pela simbologia, conta toda a história da escravidão e da conquista da liberdade. A realização do Seder, que significa ordem, é um jantar que segue uma ordem determinada, contando a história da saída do povo judeu do Egito, conforme descreve a Hagadá, “vehigadeta levincha” “e contarás ao seu filho”. Importante ressaltar que as crianças têm papel importante e cabe a elas a realização das kushiot, ou seja, as perguntas que constam da Hagadá.
Apesar de o Seder ser geralmente longo, se comparado a outras refeições familiares, vários costumes realizados neste fazem com que as crianças fiquem atentas e não durmam: mostrando e abençoando os alimentos simbólicos da keará de Pessach (prato especial), tomando o vinho, entoando canções alegres, procurando o afikoman (pedaço de matsá), escondido durante o Seder e lendo nas hagadot (histórias de Pessach), geralmente ilustradas e coloridas.
Os principais mandamentos de Pessach são:
– Comer matsá (pão sem fermento, feito de farinha branca e água);
– Narrar a história do Êxodo ao recitar a Hagadá;
– Explicar o significado de três itens: Pêssach (cordeiro pascal), matsá e maror (ervas amargas);
– Beber quatro taças de vinho;
– Comer maror (erva amarga);
– Recitar o Halel (cântico de louvores a D’us).
Simbologia
Na mesa do jantar (Seder), deve ter:
- Três matsot (plural de matsa) que devem ser colocadas sobre a mesa dentro de um pano com divisões (ou coloca-se uma matsá em cima da outra, com guardanapos intercalados entre elas). Elas simbolizam os três tipos de judeus: Cohen, Levi e Israel.
- Vinho Tinto
- Um prato especial chamado “Keará”.
O que dispomos na KEARÁ são os elementos do jantar de Seder, vamos a eles:
– Água salgada: representam as lágrimas que os judeus derramaram com o trabalho pesado como escravos no Egito;
– Beitsá: um ovo cozido que representa a oferta de Páscoa feita no Templo;
– Zerôa: um osso de cordeiro (não é para ser comido) que representa o Cordeiro Pascal – remete ao fato de D’us haver tirado o povo do Egito com “Seu braço estendido”
– Carpás: A batata cozida é mergulhada na água salgada para despertar a curiosidade das crianças. Os vegetais simbolizam o potencial de crescimento e renascimento e a água salgada, nas quais são mergulhados, recorda as lágrimas derramadas pelos nossos antepassados no Egito. A palavra hebraica “carpás”, quando lida de trás para frente, simboliza os 600 mil judeus no Egito forçados a realizar trabalhos pesados (cada letra do alfabeto hebraico possui um valor numérico correspondente; a letra hebraica “sámech” é igual a 60, multiplicado por 10 mil; as outras três letras correspondem a pêrech – trabalho pesado).
– Marôr: raiz forte, simbolizam a amarga escravidão do povo judeu no Egito. Para o maror pode-se usar raíz-forte crua descascada e ralada; folhas de endívia; talos ou folhas de alface romana lavados e verificados; ou a combinação de todos.
– Chazeret: Mais ervas amargas (das enumeradas para o maror)
– Charôsset: maçãs, pêras e nozes liquidificadas ou raladas, misturadas com uma pequena quantidade de vinho tinto, lembram, na cor e consistência, a argamassa usada no Egito para fabricar tijolos.
– Vinho tinto: todos deverão beber quatro copos no decorrer do Sêder. Pode-se beber suco, no lugar do vinho. Um pouco de vinho ou suco deverá ser derramado ao ser pronunciada cada uma das dez pragas do Egito.
A Mesa
Essa foi a “KEARÁ” da minha Mesa de Pessach:
Ao lado da Keará, as 3 matsás dentro do pano:
E a mesa contou com dois jogos de jantar que minha mãe tem, um branco e outro preto e branco (ela ganhou de casamento, ou seja, 40 anos atrás) que eu intercalei. Os porta-guardanapos são de vidro.
Evitei muitas flores, pois na mesa de Seder o principal é a Keará. Coloquei apenas três vasinhos de cristal com cúrcumas branca e rosa, apenas para dar mais charme.
Por se tratar de uma festa muito familiar, não contamos com ajuda de copeira ou garçom. Nesse dia todos se ajudam. Sendo assim preparamos um aparador de bar com as taças, jarras, whisky, flores e velas.
Espero que tenham gostado das explicações. Se quiserem saber mais alguma coisa me escrevam!
Beijos
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